نبذة مختصرة : Às vésperas da Revolução Liberal de 1820 (Barata, 2003) a imprensa periódica portuguesa encontrava-se em forte ebulição. Todos os periódicos portugueses coevos antecipavam uma renovação abrupta do sistema sócio-político, mas previam igualmente o futuro com alento e esperança. Atendendo ao progresso da nossa imprensa periódica, é imprescindível debruçarmo-nos também sobre a imprensa periódica brasileira, especialmente entre 1808 e 1820, em virtude da retirada e a continuidade da Família Real portuguesa no Brasil após a primeira invasão francesa (Geraldo, 2011). Por todos os domínios coloniais portugueses, cumprindo as ordens inflexíveis da Coroa, não fora permitido a fundação de oficinas tipográficas nem os estudos universitários no Brasil, sendo que a circulação de livros e jornais esteve fortemente circunscrita às elites locais (Monteiro, 2003). Embora o tráfico livreiro fosse amplamente combatido pelos poderes judiciais, temia-se que a difusão das ideias revolucionárias (Verdelho, 1981) pudesse desafiar a subordinação do Brasil, ainda que o sentimento independentista estivesse em ascensão desde o último quartel do século XVIII. Não obstante, haveria algumas excepções a este regime censório rígido, como o Almocreve das Petas [1797-1798] (Balbi, 1822/2004: CLXXVII), a única publicação periódica humorística permitida pelas autoridades e que, com a Gazeta de Lisboa [1715-1760] (Belo, 2001), seriam os únicos periódicos nacionais cuja circulação e leitura eram autorizadas em terras brasileiras. No âmbito da imprensa humorística, apontamos ainda O Piolho Viajante [1802- 1804] (Cunha, 1941: 282; Tengarrinha, 1989: 55; Nunes, 2001: 59), um dos periódicos então mais lidos [e temidos!] por Portugal e no Brasil. Lançado inicialmente em folhetos semanais anónimos, foi posteriormente compilado [1821], sendo a sua autoria usualmente atribuída a António Manuel Policarpo da Silva [1790?- 1819?] (Carvalho, 1974: 265-266; Lopes/Saraiva, 1996: 550) e a José Sanches de Brito [?-?] (Brito, 1806-1807; DBP, 1860: 119, 1885: 193; Tengarrinha, 1989: 55; DJP: 158). Os folhetos semanais correspondem a 72 «carapuças», ou capítulos, dedicados às tropelias das pessoas em cuja cabeça o piolho narrador viajava e comentava em jeito satírico. O Piolho Viajante conheceria várias reedições que lhe caucionaram uma forte popularidade em Portugal e no Brasil até meados do século XIX, quando começou a cair no esquecimento, embora existam reedições críticas modernas (Silva, 1973).
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