INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO: LITERACIA EM SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA EM ADOLESCENTES DA GUATEMALA

Introdução: Este trabalho foi desenvolvido durante um projeto de voluntariado médico na Guatemala, numa área rural (Totonicapán), na qual a maioria da população apresenta baixo nível socioeconómico. Na Guatemala, em 2020, foram reportadas 65 373 adolescentes grávidas entre os 10 e os 19. Alguns estudos demonstram que as intervenções breves em países de baixa renda são métodos custo-efetivos, viáveis e reduzem as desigualdades ao nível da literacia em saúde. A educação sexual não está difundida em todas as escolas do país por questões culturais e existem vários estigmas associados ao tema. Os professores de uma escola da comunidade local solicitaram o apoio dos médicos e enfermeiros da clínica da ONG para a promoção da saúde em duas turmas de adolescentes. Objetivo: Averiguar o nível de conhecimento de conceitos básicos de saúde sexual e reprodutiva (SSR) em duas turmas de adolescentes mediante a aplicação de um questionário; promover uma sessão de educação para a saúde orientada pelos resultados do questionário. Método: Aplicou-se um questionário anónimo constituído por 5 perguntas, desenhado pelos médicos e enfermeiros voluntários na clínica. Após a leitura das respostas pelos investigadores, conduziu-se uma sessão de educação para a saúde sobre SSR, com informação sobre os tópicos abordados no questionário (conceito de sexualidade, conhecimento sobre métodos anticoncepcionais, sua utilização e prevenção de infeções sexualmente transmissíveis). Realizou-se exemplificação da colocação do preservativo e esclarecimento de dúvidas. Para as sessões dividiram-se os alunos por género, a pedido dos professores. Resultados: A média de idades dos adolescentes foi de 14 anos (com idades compreendidas entre 12 e 17 anos), sendo que 61% eram do género feminino e 39% masculino. Verificou-se que 100% afirmaram nunca ter tido relações sexuais e 31% acreditavam que relações sexuais era o equivalente a “casamento”. Dois terços dos alunos conheciam o preservativo e a grande maioria (88%) não conhecia nenhum outro método anticoncepcional, além do preservativo. Apenas 7,7% dos alunos conheciam a pílula do dia seguinte e 3,8% conheciam a pílula anticoncepcional. Metade dos alunos identificaram o preservativo como o único método eficaz na prevenção de Infeções Sexualmente Transmissíveis e 11,5% acreditavam que o método do coito interrompido previne a transmissão destas infeções. Conclusões: A literacia em SSR é fortemente condicionada por aspetos culturais, pelo que médicos e enfermeiros têm um papel determinante ao dinamizar atividades de promoção da saúde neste âmbito. Para tal é importante envolver os professores e educadores, de forma a trabalhar em conformidade com os padrões socioculturais locais.