Casos em que o jornalismo foi noticia

A crise do jornalismo, tão decantada nos últimos anos, é uma crise de morte ou de renovação e de crescimento? A pergunta, sem ser expressamente formulada como tal, está no centro das reflexões e análises deste volume, concebido e produzido no quadro das actividades do projecto Mediascópio. Este Projecto distingue-se pelo acompanhamento próximo que se propõe fazer do panorama da comunicação e dos media em Portugal. Rastreia em continuidade o que se vai passando, de acordo com a cobertura jornalística que dele é efectuado e, além de análises de conjunto, de ritmo quinquenal, toma como matéria de estudo problemáticas que, pelo seu significado intrínseco ou pelas consequências que comportam, justificam um olhar crítico mais aprofundado. No que se refere a esta obra, foram escolhidos vários casos que assumem uma particular característica: neles e através deles, foi o próprio jornalismo que se tornou notícia. E nem sempre pelas melhores razões. Digamos que, no conjunto dos casos analisados, existem pelo menos três tipos de situações, cada qual com a sua esfera própria de questões. Encontramos, em primeiro lugar, mega-acontecimentos de cunho trágico e traumático, que a cobertura mediática amplia, enquadra, reconstrói e significa. O caso paradigmático é, aqui, sem qualquer dúvida, o 11 de Setembro e, no plano nacional, a queda da ponte de Entre-os-Rios. Cada qual na sua escala e com a sua natureza específica, ambos confrontam os cidadãos com a fragilidade dos pilares em que a vida social e política assenta. Nos dois contextos, os media, assumindo-se como agentes de estratégias de consensualização, tornam-se parte decisiva do acontecimento que reportam.